Equanimity
Da assimetria do equilíbrio
Equanimity, que Sofia Pidwell apresenta no espaço Round The Corner, insurge-se, simultaneamente, enquanto exercício de continuidade e moto de regeneração do trabalho da artista. Mantendo os princípios visuais de composição, as premissas de convialidade entre desenho e espaço de exibição e os jogos de sobreposição formal e conceptual, usuais na sua obra, Pidwell discute, nesta exposição, as possibilidades do desenho enquanto lugar de um equilíbrio assimétrico, que encontra nessa assimetria a razão de persistir.
O conceito de equanimidade, que titula a exposição, remete, neste caso, para a necessidade que o sujeito tem de encontrar um equilíbrio endógeno que pelo acto criativo ganha exogeneidade e afecta o meio envolvente. Pidwell encontra no seu desenho um equivalente estético desse estado emocional proactivo por escapar ao maniqueísmo do bom e do mau, do certo ou errado: uma fuga a qualquer tipo de essencialismo.
Os dois momentos visuais que compõem a exposição - uma intervenção mural e um desenho sobre papel - apresentam-se enquanto extensões e reflexões sobre o espaço que habitam, espaço este devedor de uma arquitectura peculiar onde o simétrico não tem lugar. Mas é nessa assimetria que o espaço encontra a sua natureza equilibrada e equilibrante de abrigo da obra de arte e é sobre essas premissas que se constrói o acto criativo de Pidwell.
Usando o traço (sempre flexível) enquanto matéria-prima, a artista, através de actos concomitantes de supressão e identificação formais, descobre e oferece ao espectador a proporção exacta do desenho estável e de uma estabilidade contaminante. Se as formas da natureza se assumem enquanto instâncias reguladoras daquilo que é, ou pode ser, percepcionado enquanto detentor de um equilíbrio congénito, os desenhos de Pidwell reinventam esse equilíbrio, sempre assimétrico, e servem uma apologia visual da equanimidade.
Texto de Ana Cristina Cachola, Fevereiro de 2013