Path

Os espaços de exibição artística funcionam hoje enquanto prótese da obra de arte (ou vice-versa). Museus, galerias, ou territórios de exibição menos convencionais insurgem-se, na contemporaneidade, como camaleões que se transformam constantemente de acordo com aquilo que desliza sobre as suas paredes, chão e tecto. O espaço, enquanto instância de mediação, é mais uma das variáveis que contribui para a significação da obra de arte, tendo também sido também a reflexão em torno da dimensão espacial força inspiradora de criações contemporâneas. Tomem-se como exemplo as práticas artísticas site-specific desenvolvidas a partir do final dos anos de 1960. Desde então que a carga ideológica, e também política, associada, originalmente, a estas práticas se tem vindo a desvanecer. Hoje, mais do que uma reacção, contestação ou negação do status quo expositivo, a acção site-specific assume-se como constante (formal e estética) das engrenagens operativas do campo artístico contemporâneo.

PATH, exposição de Sofia Pidwell, coloca esta relação do espaço com a prática artística no centro da reflexão. Ocupando a totalidade de uma das paredes da galeria com um desenho mural, Pidwell ocupa também o espaço-galeria durante as três semanas que antecedem o momento da inauguração. O espaço físico da galeria, cuja janela em forma de montra permite uma união quase simbiótica com a rua fronteira, é ele próprio propício à exibição de um trabalho que faz implodir o binómio criar/mostrar. Desta forma, a artista mostra a prática artística em processo; apropria-se do território de exibição enquanto atelier temporário; expõe a acção criativa que origina a obra de arte; destitui a criação da invisibilidade a que quase sempre está confinada; desvenda o caminho – PATH - que antecede o objecto artístico. Finalmente, permite que o espectador a acompanhe nesta jornada.

 

É por isso que o trabalho da artista portuguesa assume sempre contornos de um work in progress que não permite, contudo, desvelar um início ou um término. O desenho natural e naturalizado mostra acontecimentos volúveis, possibilidades anteriores e ulteriores que escapam à efemeridade por lhe estarem inevitavelmente condenados. O trabalho de Pidwell não nos coloca, ainda assim, numa encruzilhada, o caminho que nos faz percorrer é em si encruzilhado, enredado, denso. Todos os traços apontam em direcções distintas, formando um labirinto intrincado que se expande sobre si próprio e ofusca um possível destino. Sabemos que não há fim para o caminho porque haverá sempre caminho. O título da exposição - PATH - epitomiza, assim, o trabalho da artista: uma poética de momentos vários condensada no hiato entre a criação e a destruição, enquanto processo (sempre) cíclico e regenerativo.

 

Texto: Ana Cristina Cachola (Julho de 2012)