The Meaning of the Non-Meaning

Museu Nacional de História Natural e da Ciência

 

O desconhecido / the Resert / o aguado

 

A exposição The Meaning of the Non-Meaning da artista plástica Sofia Pidwell apresenta-se em dois actos; a exposição de pintura composta por nove obras como que a construírem um mural e a performance que foi sendo adaptada aos tempos que vivemos com as restrições que nos são impostas.

The Meaning of the Non-Meaning traz-nos a dualidade de uma experiencia espácio-temporal que confronta a razão e a emoção, onde a performance faz apelo à passagem entre tempos diferentes, o efémero e o permanente. Sofia Pidwell alia o seu Eu, ao Eu dos outros, como se todos estivéssemos unidos por uma força superior. “No início o ego abarca tudo, só mais tarde separa de si próprio um mundo exterior. O nosso presente sentimento do eu é assim apenas o resquício definhado de um sentimento de longe mais amplo, na verdade, de um sentimento que tudo abarca e ao qual corresponde uma união mais íntima do eu com o mundo que o rodeia.” (Sigmund Freud, in: O Mal-Estar na Civilização.) Vivemos em dois ciclos que se sobrepõem e a exposição realça-os.

 

Sofia Pidwell tem consciência do seu processo artístico no qual é a protagonista, assume a importância da sua linguagem plástica e performativa. Nas pinturas a artista contrapõe dois planos, no plano de fundo o caos e o desconhecido e à superfície da tela as linhas pragmáticas das ligações construídas. Citando a artista “Os americanos estão agora a falar dos resultados do de The Great Reset e, para mim, tem a ver com The Meaning of the Non-Meaning. É o desconhecido, é a grande mudança para a qual não estávamos preparados, nem acreditávamos que fosse possível. O desconhecido traz-nos uma mudança, é o Reset de nós próprios. O impacto é maior que a Revolução Industrial. Tem tudo a ver com o que eu quero transmitir na exposição. Nós acreditamos que temos uma dimensão muito maior do que aquela que realmente temos. Não dominamos nada! Onde começa o Universo e onde é que acaba? A não resposta a esta pergunta mostra-nos a dimensão do que desconhecemos. É necessário termos essa consciência e humildade.”

 

A artista concentra um conjunto de práticas performativas no seu experimentalismo e a relação com os espectadores apresenta-se fundamenta. “Os artistas, como os investigadores, constroem a cena na qual a manifestação e o efeito das suas competências se expõem e se tornaram incertos nos termos do novo idioma que traduz uma nova aventura intelectual.” (Jacques Rancière, in: O espectador emancipado.). A tríade, obra de arte, o espaço, o espectador, funcionou como tronco comum da instalação a nível artístico.

 

O Happening não é o mesmo que instalação é um acontecimento e na exposição tem um significado conjuntural e universal. A distribuição pelos espectadores de fitas coloridas tem como objectivo a união e fé que nos une. Como nos diz Sofia Pidwell, “as fitas têm a ver com o processo que estamos a passar, com a insegurança, não são as fitas do Bonfim, mas tem o simbolismo do bom fim. As pessoas quando usam uma fita do Bonfim pedem um desejo e acreditam no bom fim. Durante a performance prendemos as mãos e os braços e depois soltamo-nos, há uma esperança.” A exposição é um momento concreto, deliberado e organizado, uma espécie de jogo entre as coisas, o espaço, o tempo, o aguardo.

 

“O saber precisa de ser visto com a idiotia que ele próprio comporta, com o jogo de certezas que uma época tem por inevitáveis, mas não por permanente. Um mundo sem idiotas saturado de falsa dignidade.” (Agustina Bessa-Luís).

 

Sofia Marçal