A pele e a espessura do desenho – Lisboa
AMÉLIE BOUVIER, NAZARENO, PAULO CLIMACHASKA, RENATO LEAL E SOFIA PIDWELL
A mostra de desenho reúne trabalhos de Amélie Bouvier (PRT), Nazareno (BR), Paulo Climachauska (BR), Renato Leal (BR) e Sofia Pidwell (PRT) para um projeto de itinerância a iniciar em 2015, a prolongar durante 2016. A apresentação conjunta das obras mostra as afinidades e contrapontos num diálogo desenvolvido entre os cinco artistas.
A unidade/sinal predominante, entre todos, reside numa compulsão para o acúmulo. Tal unidade – que é sinal evidenciador – consiste na representação gráfica de uma partícula ou célula, peculiares a Amélie Bouvier, Nazareno, Paulo Climachauska, Sofia Pidwell e Renato Leal.
Mediante a Gestalt, a imagem percetiva é aproximatória e reveladora de afinidades eletivas (parafraseando Goethe) pelos 5 desenhistas. As configurações, resultantes dos respetivos impulsos para o acumulo de unidades ou, no caso de Paulo Climachauska a sua subtração, instituem uma nota volitiva que é comum, ainda que dirigida sob auspícios singulares. As afinidades formais, o que se vê e é visto, ganha diversidade identitária ao atender àquilo que sejam as poéticas carateriais dos desenhos, revelando as suas condições únicas. Também a relação ao espaço que alberga e faz nascer os desenhos, revela sentidos e atitudes centríptos ou centrífugos.
As obras pensadas para esta mostra experimentam formatos e suportes, adequando-se ao espaço expositivo. No caso de Amélie Bouvier, Sofia Pidwell e Nazareno, as obras vão ser realizadas diretamente no próprio espaço, durante as semanas que antecedem a inauguração. Assim, os 3 artistas induzem o público a pensar na efemeridade da criação artística, plasmando a sua generosidade e consciência da precariedade do ato, da vida humana e da obra que, essa sim, persistirá, não somente nos registros mas na memória de todos que a visitem em estado de privilégio. É uma estética de radicação antropológica que revalida a condição primordial do desenho como matriz do humano, transportando para atualidade a pregnância das forças pulsionais em cumplicidade ao pensamento crítico.
As unidades gráficas de Amélie Bouvier possuem similitude a favos de uma colmeia, em Nazareno assemelham-se a escamas; em Renato Leal dominam círculos (quase estanques e fechados); em Sofia Pidwell, presidem os semi-círculos. Coincidem na razão do acumulo…
A atitude entranhada e pessoal de cada um dos artistas, oscila entre: a concentração compulsiva e a demora exacerbada da acuidade visual (Amélie Bouvier), o primado da sensibilidade e intuição (Nazareno); a configuração de uma arquitetura conceitual decorrente da subtração sequenciada (Paulo Climachauska); a perceção do tempo (em duração) estendendo-se na concentração reclusa no ato (Renato Leal); a consciencialização corporal do ato de desenhar para a genuína apropriação do espaço (Sofia Pidwell).
Entre o pensamento e a obra em si, circula uma decisão de atingir os níveis do quase minúsculo em cumplicidade com a precisão, rigor e meticulosidade da praxis do desenho de cariz algo matemático e geométrico. Aplica-se esta consignação a produtos cuja pele e espessura – linhas definidas na superfície, direccionadas quer na vertical, quer na horizontal, quer na oblíqua – explicitam configurações singulares, às quais subjazem diretrizes diferenciadas, sob desígnio predominante de iluminação, proporcionalidade/proporção e organicidades.
Maria de Fátima Lambert